HACKSAW RIDGE | OPINIÃO

janeiro 29, 2017

Dos três filmes que já assisti, "Hacksaw Ridge" ou "O Herói de Hacksaw Ridge" (título português) é provavelmente o candidato mais forte entre os nomeados para os Oscars 2017. É aquele que aparenta vencer todas as categorias em que se encontra nomeado.

Apesar de consumir cinema de forma compulsiva, nunca me tinha cruzado com o trabalho do Mel Gibson. Obviamente que é um nome que me diz alguma coisa, mas após pesquisar percebi que o único trabalho que havia assistido do senhor era "A Paixão de Cristo" que realizou em 2004. Era uma criança quando assisti esse filme, ainda não tinha sequer noção do que englobava toda a produção de um filme.

Pelos vistos passaram dez anos deste o último filme que Mel Gibson realizou, e muito intitulam "Hacksaw Rigde" como o tão aguardado regresso do realizador. E eu não podia estar mais de acordo.  Ainda bem que o senhor regressou como realizado, e ainda bem que me cruzei com este filme. É das mais belas obras cinematográficas que alguma vez assisti.
Desmond Doss foi o único soldado americano que, durante a 2ª Guerra Mundial, lutou na frente de batalha sem estar armado, acreditando que apesar de a guerra ser justificada, matar continuava a ser errado. Como médico do exército, conseguiu evacuar por si só os feridos que tinham ficado em território inimigo, arriscando ser morto enquanto tratava dos soldados caídos, tendo ficado ferido com a explosão de uma granada e por tiros de snipers. Devido à sua bravura, Doss tornou-se no primeiro objetor de consciência a ser condecorado com a Medalha de Honra do Congresso Americano.


Não tenho por hábito ver muitos filmes de guerra, e estava ligeiramente receoso em relação a este, mas uma vez que decidi fazer este projecto tinha mesmo que o ver para poder comentar aqui no blogue.

Como mencionei em cima não tenho por hábito ver filmes de guerra, e por norma os filmes ambientados durante o período da segunda guerra mundial focam-se mais na temática do Holocausto. No entanto este dá-nos outra perspectiva desta época da história: mostra-nos os soldados do exército dos Estados Unidos da América em confronto com as tropas japonesas na serra de Hacksaw (e toda a sua preparação até irem oficialmente para o campo de batalha).

O primeiro plano do filme é completamente avassalador tal como a sequência da guerra que a segue. Fui de imediato atirado para a pintura, nomeadamente para as obras "A Balsa da Medusa" de Théodore Géricault e para "Os Fuzilamentos do 3 de Maio" de Francisco de Goya.

O romance apresentado no início do filme não é chato, e na minha opinião, serviu exactamente para enfatizar a ideia de que as pessoas mudam: há um antes, um durante e um depois da guerra. E como aqueles mais amamos nos ajudam a suportar a nossa dor. A diferença entre como o pai de Desmond Doss trata a sua esposa e a forma como o próprio Desmond Doss trata a sua namorada, Dorothy Schutte.

Não me posso esquecer de mencionar a brilhante prestação do actor Andrew Garfield, que interpretou o Desmond Doss de forma emocionante, e torna-se impossível não nos apaixonarmos pela personalidade desta personagem pela sua bondade e convicção... Honestamente penso ter gostado de todo o elenco. Obviamente que ganhei um carinho especial pelo Andrew Garfield e pela Teresa Palmer, mas no geral, a escolha do elenco foi muito bem feita. Arrisco até a dizer que cada actor foi escolhido com muito cuidado para cada personagem.

Mais um filme que nos mostra que as nossas vivências e os nossos traumas nos dominam, e como procuramos a fé para nos dar alento. Ao mesmo tempo prova a fé e o patriotismo podem ser aliados. No entanto, quando acabei de ver este filme, fiquei completamente agoniado, e se já tinha medo da guerra, fiquei com mais medo ainda.

Devido à minha hipersensibilidade, pensei que não iria conseguir ver este filme. As imagens são de extrema violência, repletas de sangue, corpos amputados... No entanto, consegui ver o filme sem qualquer problema, embora não o recomende a pessoas que sejam extremamente sensíveis a este tipo de imagens, e não posso deixar de parabenizar a equipa de efeito visuais porque estão extremamente realistas.

O filme está de tal forma bem realizado, e aqui penso que a realização e a direcção de fotografia fizeram um óptimo trabalho juntas, porque cada plano do filme dava uma fotografia fantástica. E depois, a forma sensível com que o Mel Gibson trata os detalhes é fascinante. Chega até a colocar o espectador em primeira pessoa com uma arma nas mãos.

Aa banda sonora, é de génio. Simplesmente, de génio! Podem achar que é a típica banda sonora de filme de guerra, com toda aquela sonoridade épica. E é. Mas é muito mais do que isso. A sua subtileza tem algo de especial. Algo inexplicável, quase como se tivesse sido concebida especialmente para provocar emoções. Adorei. Muito boa mesmo, aliás, não me canso de a ouvir no Spotify.


O filme está nomeado em seis categorias: Melhor Mistura de Som, Melhor Filme, Melhores Efeitos Sonoros, Melhor Realização, Melhor Actor, Melhor Montagem, e apesar de ter mencionado no início desta publicação que é um forte candidato a vencer todas as categorias em que se encontra nomeado, penso que certamente ganhará nas, Melhor Actor, Melhor Realização e Melhor Mistura de Som.

Não me arrisco a dizer que poderá vencer na de Melhor Filme porque ainda não os visionei a todos, mas sim, é mesmo um forte candidato nesta categoria. Acho que não preciso de explicar o porquê de achar que pode vencer nas Melhor Actor e Melhor Realização. E depois a de Melhor Mistura de Som, precisamente pela subtileza com que a banda sonora se funde com os efeito sonoros. Em relação às categoria de Melhor Montagem e de Melhores Efeitos Sonoros, acho que o filme "Arrival" pela temática sai privilegiado e, por isso, penso que tenha mais hipóteses de ganhar nessas categorias.

Se ainda não viram este filme, por favor vejam. Se têm problemas com o Mel Gibson, uma vez que é um realizador/actor que já esteve envolvido em várias polémicas, coloquem tudo isso de lado e vejam este filme. É muito bom. Mesmo!

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